sexta-feira, 28 de maio de 2010

Jornal Ponto Final - "O Messi do Sporting de Macau"

O Messi do Sporting de Macau
April 26, 2010

Em três jogos já fez 14 golos. É a vedeta dos “leões” da RAEM, que somam por vitórias os três jogos realizados. Faz a diferença pela frescura física em campo. Joga quase por brincadeira, mas treina seis vezes por semana. Gostava de ir à selecção. O treinador diz que tem ali o seu Messi…

Vítor Rebelo

Só não é a “coqueluche” do futebol de Macau da actualidade, porque já não está na casa dos vinte. Aos 32 anos, Pascoal Júnior “descobriu-se” para o desporto-rei um pouco mais a sério.

E quem agradece é o Sporting Clube de Macau, que este ano se estreia na IV Divisão e tira partido da veia goleadora do moçambicano de nascença, que com 15 dias de vida foi viver para Portugal.

Ali jogou sempre por brincadeira, em jogos amigáveis de futebol de salão. Veio para a RAEM há três anos, por razões profissionais, e continuou a dar uns pontapés na bola apenas para conviver com amigos. Estava por isso “escondido”.

Quis experimentar “voos mais altos” e chegou a treinar no Benfica de Macau, porque é o seu clube do coração. “Coloquei sempre como primeira escolha vestir a camisola do meu clube do coração, o Benfica. Só que havia muitos estrangeiros e eu, como era novato nestas andanças, provavelmente iria para o banco ou até nem conseguiria jogar. Foi por isso que uns amigos e o treinador Paulo Conde, me convidaram para ir para o Sporting. Aqui estou, disposto a ajudar a equipa a alcançar o primeiro objectivo, a subida à III Divisão”, palavras de Pascoal Júnior ao PONTO FINAL, dias depois de ter marcado mais três golos no campeonato mais inferior de Macau, numa partida em que os “leões” ganharam ao Hang Sai por 4-0.

Aptidão para facturar

O jogador tem dado nas vistas e muitos já o terão visto ‘in loco’ no sintético do Campo do D. Bosco ou através dos resumos da televisão, a “desbaratar” as defesas adversárias. E é bem verdade.

José Pascoal Júnior apontou nada mais, nada menos do que seis golos no primeiro desafio que fez com a camisola do Sporting (triunfo sobre o Va Fai por 8-0). Seguiram-se mais cinco (vitória por 6-0 face ao Son I) e depois mais três, na terceira ronda no confronto com o Hang Sai.

São 14 golos apontados e muitos outros desperdiçados.

“Eu próprio estou admirado com esta minha aptidão para marcar golos. Julguei que era mais complicado eu passar de uns jogos de futebol de salão para o futebol mais a sério. Tudo me tem saído bem e estou satisfeito acima de tudo por ajudar o Sporting. Mas acho que a diferença que tem feito é a minha condição física, pois treino seis vezes por semana, quatro das quais sozinho no ginásio do meu prédio.”

No ginásio, a sério

Pascoal Júnior diz que se conseguir convencer os seus colegas no Sporting a fazer o mesmo, então a equipa vai render muito mais: “Tenho força de vontade para treinar no ginásio várias vezes e isso é uma mais valia para mim, pois tenho frescura física para não parar durante um jogo inteiro. É isso que faz falta aos meus companheiros e essa é a diferença que se nota em campo. De resto, no que diz respeito à técnica, já nasce connosco. Mas a equipa do Sporting joga em conjunto e todos temos contribuído para as vitórias. Eu só me destaco pelos golos que marco, mas só os treinadores é que poderão avaliar as minhas aptidões e veia goleadora”.

Ocupar o tempo

Júnior, que veio para o território por três meses para instalar o escritório da empresa (3dcities) e já vai em três anos de permanência, salienta que só surgiu no futebol mais a sério de Macau porque não tinha muita coisa para fazer e assim podia ocupar os seus tempos livres.

“Estava de facto escondido nos torneios e jogos amigáveis de futsal em Macau e esta experiência está a ser agradável, porque principalmente ajudo uma equipa a conseguir as vitórias.”

Questionado sobre as hipóteses do “seu adoptado Sporting”, Júnior diz que tem ambições legítimas de subida: “Temos mostrado que estamos em condições de lutar pelo primeiro lugar da série e seguir em frente para as eliminatórias. Até mesmo para a subida à III Divisão.”

O Sporting de Macau defronta na próxima jornada o Macau Slot (possui igualmente três vitórias em outros tantos desafios) e esse é sem dúvida o grande teste às capacidades do “onze” de Paulo Conde. Bastará o empate para garantir o apuramento para a fase seguinte.

Aproveitar os da casa

Questionado sobre o nível do futebol macaense, Pascoal é peremptório: “Se aproveitassem melhor os jogadores da casa, portugueses e chineses, não era necessário trazer tantos estrangeiros, principalmente brasileiros e chineses. O futebol teria condições para evoluir. O que é necessário é pô-los a jogar nas equipas das divisões principais. Como isso não acontece, andam pelos escalões mais baixos, como acontece nesta nossa IV Divisão, onde há alguns elementos com boa técnica. Depois, a Associação de Futebol deveria estar mais empenhada em tomar as rédeas da modalidade, apesar de se saber que há falta de recintos. Deveria reduzir o número de clubes da IV Divisão. Não se compreende que haja 62 equipas e que só quatro subam de escalão.”

Para já é “leão”

Sobre o futuro, o goleador “verde-branco” nada sabe, reconhecendo que poderá sair se houver convites mais ambiciosos de outras equipas.

“Estou bem esta época no Sporting, depois se verá. Naturalmente que gostaria de jogar noutros clubes, com ambições diferentes, mas ajudar a equipa a subir já me satisfaz”, admite.

E sobre a selecção?

“Quem não gosta de vestir a camisola da selecção. Não vesti a de Portugal porque não a de Macau? Mas a palavra pertence aos treinadores”, confessa o jogador.

Pascoal considera que os jogadores portugueses são os mais fortes: “Salvo algumas excepções, julgo que os jogadores portugueses são os que mais capacidade física e técnica têm, pois são os que trabalham mais. Por isso também, tacticamente, são fortes. É pena não haver uma equipa unicamente formada por portugueses, pois seria a melhor do futebol de Macau. Não tenho dúvidas. Mas se FC Porto, Benfica e Sporting conseguissem juntar-se na I Divisão, então isso seria verdadeiramente um campeonato na sua plenitude.”

O actual melhor marcador de todos os campeonatos do futebol de Macau fechou a entrevista a falar do Benfica de Lisboa: “Está fortíssimo esta temporada. Boas contratações, excelente treinador e um presidente que se manteve em silêncio. Daí os resultados. Merece claramente ser campeão.”

Técnico orgulhoso

Guardámos para o fim a opinião do treinador de Júnior no Sporting. Paulo Conde é um dos poucos jogadores de outros tempos (ao lado, por exemplo, de Mandinho), que ainda se mantêm em actividade na I Divisão.

“O Júnior tem-se mostrado numa divisão que parece fácil, mas não é. Ele trabalha muito e isso é que faz a grande diferença. Há muitos clubes – e a maior parte nós desconhecemos – com jogadores que jogam bem à bola. Essa experiência é uma mais valia e é muito difícil de bater. Isso tem-se notado neste campeonato. O Júnior treina seis vezes por semana e o Sporting tira disso partido. É o nosso Messi. Sai muito rápido a jogar e não fica à espera da bola para marcar. Vai buscar jogo e é muito bom finalizador, principalmente numa distância curta. Torna as coisas fáceis pela sua velocidade, explosão e condição física. Penso que tinha lugar em qualquer equipa da I Divisão de Macau”, considera Paulo Conde.

Seguir em frente

Paulo Conde, que continua a vestir a camisola da Casa do FC Porto, que ajudou a subir desde a IV Divisão, está esperançado na passagem do Sporting à fase seguinte: “O Macau Slot não vai ser fácil, pois tem as mesmas ambições. Não vamos jogar para o empate, que nos serve. Só queremos ganhar. Confio na minha equipa e claro na mais valia que é sem dúvida o Júnior Pascoal.”

De referir que a I Divisão do futebol de Macau faz esta semana uma paragem, a pedido do Grupo Desportivo da Polícia de Segurança Pública, que tem compromissos com equipas policiais do exterior.

Já se realizaram duas jornadas da prova da RAEM e só duas equipas, Monte Carlo e FC Porto, somam por vitórias os desafios realizados.